quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Foi-me dada a missão de escrever.



Juiz de Fora, 25 de setembro de 2010.

CAIC - Santos Dumont/MG (outubro/2011)
            Foi-me dada a missão de escrever.  Mas não escrever qualquer coisa ou sobre qualquer coisa. Escrever sobre minha pesquisa. Não de qualquer forma, mas em forma de carta. Uma correspondência endereçada a você leitor, curioso e avaliador. Quero deixar próximo à fala.
            Endereço a minha indagação a você, esta que me indaga desde o momento em que li Jean-Fraçais Lyotard[1]: Como desfragmentar um processo que já não se sabe onde começou e não se sabe aonde vai parar?
Não vou responder a esta pergunta. Aliás, este é um trabalho forjado (adoro essa palavra for-ja-do, o som e a escrita, o jota que balanceia o meio da palavra, que desnivela, que traz o novo a forma que acompanha a linha) na experiência. Não é um experimento aplicável a qualquer realidade. É único, que deu resultados, mas que é impossível de repeti-lo. Pense você na indagação em relação à educação. Se quiser começar, pule daqui para a bibliografia que indico, basicamente Paulo Freire, especificamente, a Pedagogia da Autonomia[2]. Lá você encontrará mais subsídio, mais indagações que confundirão sua cabeça, que causarão o caos e daí, você encontrará o seu caminho. Não trarei nada de novo. “Não há ‘história’ para ser contada – todas as histórias já são conhecidas.” (COHEN, 2009, p.89) Não falarei nada de novo. Ou falarei. Apresentarei o caminho que percorrera, que percorro e que percorrerei (ou indícios dele, o que não quer dizer que serei cativo das palavras que escrevo). Hoje penso assim, assim vejo o futuro, mas só no futuro poderei ver o que de fato se tornou o presente. Isso é a vida. Mutante, não previsível, insegura e por isso, viva!
            Falarei da minha vida. Da minha vivência. Como me permiti viver tudo o que li. Como sofri quando me impediram que vivesse. E como sobrevivi depois que me impediram que vivesse. E principalmente, como [ser] vivo.
            A vida enquanto transformação permite inúmeras reorganizações que fogem a uma análise puramente racional. As simbioses, os processos de cooperação, de reorganização de relações na natureza, as mutações, criaram indivíduos potentemente mais adaptados a resistir a novas situações. É isso a evolução, a perpetuação da existência incompreendida.
            Partindo do pressuposto que o homem é parte da natureza e por isso, tudo o que realiza é natural – da natureza da natureza humana – ele também muda suas relações de transmissão de sua natureza, por nós chamada cultura. Sendo a educação um aspecto desse grande área, ou entendido como um valioso meio para propagação dela, cada grupo humano busca a melhor forma para perpetuar sua cultura, grupos que sistematizam mais complexamente esta transmissão costumam chamá-la de sistema educacional.
            Os gregos que são, em muitos aspectos, nossos precursores culturais sistematizaram o ensino de sua cultura sob um conceito: Paidéia[3]. Na Paidéia grega o ensino da cultura estava fundamentado numa integração do conhecimento humano, não havendo distinção entre o que cada “aluno” aprendia: o cidadão aprendia sobre filosofia, matemática, astronomia, arte entre outras habilidades, que aqui não sou capaz de dizer. Ao olharmos também para o passado com os gregos, vemos a figura importante – ou pelo menos cismamos em atribuir tamanha importância ao artista, ou melhor, às obras artísticas na formação da vivência humana grega. Ao analisarem (JAEGER, 2001) textos gregos que resistiram ao tempo viram uma literatura preocupada com aspectos filosóficos, políticos, sociais, religiosos, bélicos: humanos.
Se for possível dizer isso, acho importante salientar que naquela época não havia especialistas e sim pesquisadores multidisciplinares.
            A cultura que hoje chamamos de ocidental tem notável influência daquela grega, se aquela não for a determinante. A curiosa pergunta que faço: em que momento da antropofagia, a cultura ocidental perdeu este aspecto multidisciplinar e buscou uma fragmentação limitante? Não estou dizendo que a vida grega fora perfeita, mesmo porque também fora limitante: somente cidadãos tinham direitos; mulheres e escravos estavam excluídos do privilégio do conhecimento. Mas, por que os estudiosos contemporâneos (palavra banalizada atualmente e que se faz presente em minhas indagações) cismam em fragmentar o conhecimento? Limitam-se a estudar um aspecto, como se fosse possível segmentar a vida e/ou a vivência.
            No entanto, neste momento não é necessário responder e também não será possível questionar tais aspectos, visto a natureza limitada de uma monografia. O mais interessante agora é buscar aspectos, vivenciar os ganhos de uma educação integral, que se entende como integralmente humana e não em tempo integral.


[1] LYOTARD, Jean-François. A condição pós-moderna. São Paulo: José Olympio, 2002.
[2] FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
[3] JAEGER, Werner Wilhelm. Paidéia: a formação do homem grego/tradução Artur M Parreira;[adaptação do texto grego Gilson César Cardoso de Souza] 4ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.


MENDES, T. M., Introdução. In:.____. Do artista ao educador e artista OU Do artista na sala de aula e do educador no palco OU Sobre uma vivência da arte. 2011. Monografia (Pós-Graduação) - Teatro e Dança na Educação, Faculdade Angel Vianna, Rio de Janeiro. 2011.

Nenhum comentário:

Postar um comentário