Antes
de chegar ao dia solene, surgiram inúmeros possíveis roteiros para minha
apresentação que deveria ter aproximadamente 20 minutos. Ler o texto todo que se
materializou numa caixa de plástico, produzida com as capas do kit qualificação
do PPGE, com um caderno de bordas de 20 folhas escrituradas, 22 folhas de texto
em papel vegetal, duas folhas de texto em folha de plástico em transparência, um
texto em folha A 4
em papel couché, um texto em folha A 3, um texto em folha de
168 cm
X 58 cm ,
um texto em folha formato de círculo com 90 cm de diâmetro, um texto em folha enrolada
com aproximadamente 200 cm ,
se tornou tarefa difícil e talvez desinteressante em tempo tão curto.
Comecei então a pensar em outras
coisas: músicas, gostava de muitas músicas, algumas produzidas por uma
filosofia potente tal qual aquelas lidas nos livros filosóficos, com charme de pôr
o pensamento para cantar e dançar. Dia 27 de março, Dia internacional do
Teatro, me qualificava no dia 26. Lembrei-me da minha defesa de monografia pela Faculdade Angel Vianna - RJ, dia
27 de março de 2011, quando fora orientado pela primeira vez por Maria Helena
Falcão. Naquele dia, li a mensagem de Augusto Boal, escrita em 2009, na qual
ele destacava a relação composicional entre teatro e vida. Aguçando nosso olhar
para as relações teatralizadas que vivenciamos cotidianamente, como aquela que
agora protagonizava. Personagens, figurinos e espaços bem definidos, texto
dramático com rigor linguístico invejável pelo dicionário, palco e plateia,
conflito dramático, clímax e desfecho da trama.
Depois pensei que o silêncio após
tanta falação e escrita seria um bom exercício.
Precisava criar um corpo ou um
corpo qualificado pelo mestrado estava por ser criado. Mas o que pode um corpo?
Ou, como se cria um corpo? E na Academia, como se cria um corpo? Com um texto?
Ou o texto seria já corpo? Um texto cria corpo ou um corpo cria texto? O texto
é corpo. Como corpo cria corpo? E o corpo põe-se como questão. Que corpo? Que
corpo habita o território da Educação? Corpos educados. Corpos orquiectomizados?
Que corpo cria Educação? Educação como corpo. Que corpo cria corpo educação?
Que corpo cria corpo? Que corpo?
Um corpo forma texto cria. Um
corpo cria mais corpo na escrita. Corpo é escrita. Escrita é corpo. Corpoescritatecido lembrava também o trabalho com Nina, criador de tanto corpo. Agora, tanta coisa criava
aquele corpo submetido à qualificação, porém composto por tanta coisa que não apenas acontecia na qualificação. Tempo do mestrado implodido por acontecimentos
que arrombavam as paredes institucionais. Escrita da pele. Pensava: um vídeo
com imagens que tem produzido corpo junto à pesquisa do mestrado, apesar de não
fazer parte do cronos mestrado, por vir antes e por não está dito pela língua
régia da pesquisa acadêmica, mas por outra língua que produz corpo. Corpo em produção. Corpo
produzido. Corpo produzindo. Corpo que inventa corpo. O corpo assalta a cena.
O corpo texto encontra + corpo em
produção de mais corpo. Como corpoescritatecido, corpo cola no texto na
produção de corpo. Corpo + imagem + texto + música + cola + corpo + papel +
cola + corpo + música + texto + cola + cola + música + imagem + cola + texto +
corpo + imagem + cola + texto + cola + corpo +++++++++++++++++ = forma =
educação outra = corpo = nu.
Outro corpo. Outra produção.
Outro possível. Uma garota é impedida de ficar nua na escola ou é permitida
graças à um discurso adoecido: ela pode, coitada, é doidinha mesmo. Ela sempre
fica nua, ela sempre causa constrangimento. Aqui o sempre não naturaliza, pelo
contrário, constrange e desnaturaliza a atitude já esperada. A paciente professora e amiga Cláudia Meireles problematiza por lá: e se experimentássemos outra coisa, e se experimentássemos
o momento dela de experimentar o nu na sua nudez de possibilidade e não na
ansiedade do desejo da expectativa por cobrir o corpo. A diretora responde
cansada: já tentamos isso aí, outras coisas.
Clarissa Alcântara comendo algumas frutas
da banca provoca, experiência tem a ver com memória. Repetição com memória da o
Mesmo. Repetição com esquecimento é diferença. E Claudia continua a repetir e
repetir e repetir e repetir esquecendo os limites. Que diferença. Um corpo nu, mais uma vez. Quanto
nu suporta Educação? Quando é que o corpo está nu? Que roupas? Que nu?
Uma colagem que deveria proteger
o nu dos olhares, que deveria encerrar-se e dar palavras aos outros, no
encontro, rouba palavras. Encontra música, produz movimento que deixa o corpo
ainda mais nu. Risco. Não havia planejado nada daquilo. Nada consciente.
Deveria ter parado na primeira oportunidade, mas quando é que foi? O corpo nu
que se produz na academia e poderia ser atacado pela academia, se protege com
academia de muitos modos (devir animal, devir criança, resistência, blá, blá,
blá, blá...): dois livros na frente de n sexos. Pudor? Talvez. No entanto, mais
importante que forma nu é o movimento que a produz, movimento de invenção que
potencializa outras formas impensadas, movimento caro a este território de muitos
hábitos cristãos de escolares cátedras.
Para um performer o nu é figurino
obrigatório. Para um professor, assim como o chapéu de guizos de Larrosa[1],
o nu é um exercício de resistência e por isso, de criação. Acabo de ser
aprovado no exame de qualificação de mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em
Educação da UFJF. Então, até nu defesa.
[1]
LARROSA, Jorge. Elogio do riso. IN: LARROSA, Jorge. Pedagogia profana. Danças, piruetas e mascaradas. Autêntica: Belo Horizonte,
2000.
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