terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Mas afinal que é essa tal diferença?



Repetição. Não há regime outro que gere tanta diferença quanto o do capital. Dizer ‘seja diferente’ é redundância. Diferença é a única certeza, assim como a morte, ah! sim, como respirar. Todos na diferença somos. Fantástico, não? Mas aí vem tal identificação. Ser aceito como diferente na igualdade, eis o risco já riscado. Só existe diferente quando existe semelhante. Não existe semelhante. Rio do impossível, da impossibilidade da igualdade. Consumo a calça boca de sino, santropê, saruel, capri, corsário, legging, pantalona; cabelos longos, repicados naturais, mas como naturais? Imposição do natural à natureza do cabelo enrolado, liso, anelado, alvoroçado. E vemos um desfile da diferença. Todos vestidos iguais, ouvindo igual, dançando igual, assistindo igual, discutindo igual, bebendo igual, amando igual. Tolice. É pé mancando no salto infame, é música chiclete que gruda na irritabilidade; é cerveja nem tão gelada, nem tão redonda, nem tão a número um, nem tão alcoólica, nem tão feliz. É corpo com celulite, banha que salta ao decote, colote imperdível na academia; é pau pequeno, gozo precoce, depilação atrasada. É diferença na repetição. Ual! É vida surgindo do falso controle da dita moda muda. É excesso. Color block. Muita cor, muita cor, mesmo. Paleta interminável do verde cintilante na pele negra dos olhos azuis de lente. E short curto, apertado, arrochado que cutuca na bunda mais que saliente do ‘cuduro’ brasileiro, não mais africano, menos ainda índio, jamais português. Nem europeu, nem japonês, nem Portugal, nem mãe áfrica. Filhos bastardos abandonados no parto nipo-afro-indo-sei-lá-o-quê: diferença, não igualdade. A saída, há saída, sempre. Onde houver repetição haverá então diferença. Alegria. Sociedade socialista stalinazovenezuelana do contra-norte é igualdade patética. Impotência que não resolveu o complexo inferior de Édipo pós-cegueira de Rei. República tem tudo: muito do que não me agrada, repúdio público ao reinado republicano. Mas quero falar aqui, na diferença, na relação, no entre, nem lá nem cá, lá e cá. Aqui. Agora. Presente. Olhos atentos. Corpo aberto. Atenção. Há diferença sempre. Não é querer, não é poder, não é vontade. É desejo de sei lá o quê. É. É. É. Potência. Vida que se faz na vida. Incerteza certeira, já disse isso em algum lugar. Já disseram isso em outros lugares. Aqui, repetição que gera diferença. Isso! Mas como? Comendo, vivendo, amando, criando. Controlar até que venha o descontrole. Não temer o caos. É ordenação na desorganização. Ordem outra. Veja. Está sempre aí, sempre aqui, não precisa procurar, precisa sentir, sensibilizar, dar-se conta. Doar. Não comprar. Dar-se. Doar-se. Não ao outro. Mas a si. Para si. E aí, já é outro não mais Eu. Prêmios? Não há. Já é premiação deixar-se ser. Tornar-se quem se é. Quem é? Que é? Aquilo que não é semelhança e igualdade. Repetição, repetição, repetição. Diferença, sempre há diferença. Capitalismo. Socialismo. Darwinismo. Iluminismo. Modernismo. Bruxismo. Contemporaneidade. Não tem nome. Não tem rosto. Corpo sem rosto, rosto provisório. Mas, sobretudo corpo. Corpo. Isso. Corpo pronto para torna-se sempre outro. Outro. Sem definição definitiva. Provisório. Sempre em relação a. Corpo como capital de investimento de desvaloração. Sem valor. Chulo, brega, ralé, popular sem ser pop of the top. Apenas corpo com valor de troca, permuta; troca-troca corporal. Faz vida. Perfuração do capital: repetição, repetição, repetição do capital até a total transvaloração, excesso de produção. Lei da oferta e da procura radical. Doar. Dar. Disponibilizar. Entregar. Tudo ao si. Dá?


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Hoje encerro a era do obsoleto.

Do óbvio.

Do fixo. Seguro. Da anestesia.

Na chuva, sinto as gotas tocarem os pelos, escorregarem pela boca; absorvidas pelo tecido. 
Roupa.
Caminho normalmente. Sem pressa.
Inauguro os sentidos.
A Era da dor.
imagem retirada da net.
Do mutável. Redescoberto.
Aberto. Passageiro. Vivo. Fugaz.
Incerto. Perigoso. Instigante.

Basta de poesia para almas analfabetas.



]julho ou setembro de 2011[

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Para o Charles

Pior que o senso comum
do pastor , óbvio,
é  o da instituição que se diz outra
E rende-se ao pastorar.
Escola.
Que cola:
Cola o pensamento comum,
de um, em muitos.

Covardia poética


Escrevo porque tenho vontade. 
Escrevo, agora, parado ao lado do sol, na ânsia de ver meu corpo relaxado de tantas tensões do pensamento. Tensinar somente os dedos.
Não entendo o pouco que compreendo, penso muito e nada adianta.
Quero parar de pensar. Pensamentos não valem nada, tantos momentos, tantos projetos, tantos tantos... resumidos ao vazio,ao inseguro, a sua forma.
Estou desterrado!
Sem onde pisar, sem parede que me proteja, sem assoalho que me retenha. Só um teto que pressiona incansavelmente minha cabeça.
Isso é criação? Da tragédia, da dor, do pânico, criar?
Se for, quero a falta de inspiração eterna.


foto Fábio Veloso
Ouro Preto/MG - Centro de Convenções - Festival de Inverno de Ouro Preto e Maria, Fórum das Artes 2008.

Desejo futuro



Fechado neste espaço quadrado, paro em meus pensamentos. Tento verter para o papel todas as minhas impreensões. Inútil trabalho! Impossível depois de tantos escritos contentar-me em ser compreendido. Vontade besta essa de querer ser escutado, lido, decifrado. Vaidade passageira que só faz aumentar minha inquietação interna.
Quero ser objetivo, conciso, simples. Não há jeito de ser assim diante de tantas complicações corriqueiras. Jogo, fuga, mentiras! Impressões desmedidas e fugidas.
Quero é felicidade sincera, simplória, sentida apenas. E talvez quando isso conseguir, não necessite mediocremente de papel e caneta para fazê-lo.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Projeto Verão 2012

Imagem retirada da internet.
Neste verão
não vou à Academia.
Estou fora da forma.
Outra forma.
A academia não
me cabe.
Halteres pesados
corpos bombados
anabolizados demais;
Pouca adrenalina e muita morfina.
repetição, repetição, repetição
enrijecimento e hipertrofia muscular
Ui!
Rígidas regras,
Regras? Erras.
Neste verão, outono, inverno
vou praticar
Tai Chi na laje
Yoga na esquina
corrida no 'buteco'.
Quem sabe na primavera...
Não me cabe
a Academia.

Desejo Juvenil



Torço cada dia mais
Para que os anos venham
Que a sensação que o tempo se arrasta chegue.
Que o cabelo caia
E os que resistirem se embranqueçam.
Vincos na pele que demora retornar,
Que se entrega à gravidade
Sem gravidade.
O pau caia.
A buceta seque.
Que a lucidez não me comporte.
Que a vertigem seja constante,
Mãos trêmulas.
A morte não seja fatalidade,
Apenas certeza da vida.
Torço para que chegue o dia
no qual o encontro não seja pretexto
para enfiar o pau no buraco.
O encontro não seja sexo, sexo
O sexo como encontro.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Adoro cheiro de vida


Adoro cheiro de vida.
Vida fede.
Suor, sangue,
Gozo, cuspe,
Catarro, chulé
Mau hálito.
Entre o escroto
Nas axilas
No prepúcio
No rego
Nas costas.
Vida fede.
Carrego comigo vida que faz feder vida:
Bactéria, vírus, protozoário.
Adoro cheiro de vida.
Vida fede.
Morte fede ainda mais,
Cheira flores.

Surto consumido

            Já virou clichê de grupo pseudo-alternativo anticapitalista americanizado dizer que o consumismo é uma loucura, que a sociedade do capital está doente e que o colapso esta perto, assim como o fim do mundo em 2012 ou 2017, quem sabe.
            Não é difícil encontrar pessoas que saibam elencar tudo o que faz “mal” à sociedade organizada na alienação: TV para as crianças, excesso de trabalho para os adultos, falta de tempo para diversão com a família, para realmente viver a vida global; tempo nunca se tem, a não ser para gastar preocupado em ganhar mais dinheiro, por menor que seja o valor e mesmo que não haja saúde para gastá-lo. E o medo de sempre se perder o muito pouco que se tem domina o dia, toma a tarde, invade a noite, rouba o sonho e financia o traficante farmacêutico.
Alguma coisa em 7 de setembro. Com Nina Veiga, Flaviana Benjamin e Tarcísio Moreira. Juiz de Fora - MG
            Vivemos no tempo do excesso, mas em constante exceção. Somos seres complexos que fantasiam a realidade, que inventam a todo o momento mundos real[mente] ficcionais. Para alguns, temos um consciente e um inconsciente. Este tal inconsciente, que já fora chamado subconsciente, acredito ser um SUPERconsciente (algum autor já disse isso, mas querendo dizer outra coisa, não sei qual, joga no Google.com). Dizem que o inconsciente está sempre ali, o tempo todo, por isso um superconsciente é mais que o consciente, não é estar imperceptível quanto o inconsciente; está super perceptível, in está muito out. [Super]a-se, acumula forças dando lampejos de razão, forçando um mundo que quer criar. Ele domina, quer conscientemente. Ele é mutante, atento e possui uma atenção constante, parece nunca dormir porque sonha, sonhos terríveis, alucinados, excitantes, amorais, românticos, bizarros, incestuosos. Mas o que querem dizer: já dizem, são sonhos criados por um imaginário potente, artístico e errante, só. Apenas sonhos. O pior é quando se manifesta na presença do outro, quando interfere na relação com o outro, quando determina a interação com o outro: metamorfoseia-se em homo, hétero, bi, pan sexual; não se sabe como, apenas que é. Pernas super inquietas, olhos que piscam, dentaduras que deslizam na boca, maxilares que tensos, dedos que estalam, amizade instantânea e passageira;  monólogos na rua, no banheiro, frente ao espelho; perseguição à noite, uma série de taquicardias, modos que denunciam e/ou anunciam “ Sou eu mesmo, sou eu”. Que eu? Eu quem? Surto! Susto. Absurdo. Surto.
            Ligo a TV (a vilã de sempre!). Tá! Abro a revista, olho outdoors, acesso à internet – lugar potente do surto de 7x70 de perdão infinito. Bobagem a TV, pois o nosso consciente super descobre o superconsciente internauta. Podemos viajar, acessar mundos outros, distantes; podemos ser quem EU quiser. Será? Sexo, sexo, sexo e mais sexo. É surto, é sexo no surto, e surto de sexo, click, um vuco-vuco, sei lá o quê. É super-homem que voa sem poderes, sem pára-quedas, que mata tubarões na prancha de surf, que faz amizade com monstros da floresta, que no naufrágio... Ah! Tá explicado! O comandante daquele navio na Itália pulou antes não para salvar-se e deixar todos ao léu, foi para salvar o isopor de cerveja que estava à deriva. Eu vi isso numa propaganda de cerveja que descia redonda ou redondo? Ou foi numa novela, ou será numa atualização do facebook. Há diferença?
            E já que alguns já mataram deus, resta ao analista, que não é deus, mas melhor, sabem que o é, não diga o que fazer. Porque ele não diz nada, só escuta, analisa, analisa-se, pois ele também está em análise. Temos uma perfeita engrenagem: somos potencializados ao surto, surtamos, aí temos alguém para nos socorrer de nós mesmos, para voltar ao que EU era, mas não sabia ser porque no surto se é muitos, menos EU. Tolice.
            Estamos em tempos de excessos e em exceção. Medo. Temos medo do surto que é inevitável, pior, que é incentivado virtualmente. Há uma saída, uma promissora carreira: analista e pode ser analista de sistema, é quase a mesma coisa que lida com máquina, como se tudo fosse maquinalMENTE previsível no surto
Estamos todos surtados! Que bom! Que potente.
Não há problema algum em querer embriagar-se, cortar-se, estuprar-se, consumir-se, consumir, pulsão de morte-vida: isso é vida. Mas há risco, há coma alcoólico, lei moralizante, polidez política, há outros deuses, tantos deuses, deu-se muita coisa, há deusa científica, há um templo da vida abaixo da Europa que acelera o fim.
O surto é necessário. É pulsão de morte-vida. É preciso morrer para viver. Isso já disse Jesus, já disse Pessoa, mas eles já morreram e não é interessante a igualdade, a semelhança, porque o surto é sempre diferença. O desejo sempre desejo de desejo é desejo outro, nunca igual. Talvez repetição que gera diferença. Blábláblá. Blábláção inventiva de vida. É sentido artístico, são sentidos artísticos sem uma direção senão a vida, mas que direção tem a vida? Não sabe-se. Isso é vida. Incerteza certeira. Potência no nada saber, no tudo poder.
Mas estou EU cá analisando.
Surtados meus e de todos, porque o surto nunca é EU, é sempre NÓS! É encontro EU/OUTRO ou OUTRO/EU. É um não sei o quê com um sei lá o quê, que gera outra coisa que não sei, porque ainda não sou. Sem fim, mas com muitos meios. Acontecimento.
            Tudo assim comprado, para voltar ao assunto que me provocou primeiro a escrever. Somos conduzidos o tempo todo ao surto: querem-nos vender o surto dopado, da velocidade, do sexo sempre prazeroso, da viagem inesquecível, da festa interminável, dos milhares de amigos, da família perfeita, do amor para recordar, do emprego rentável, da felicidade como fim, da saúde constante, da juventude eterna, da morte superada. Querem vender-nos o surto ou nos aproveitam no surto? Querem vender-nos a constância, a potência do surto, a vitalidade surtada. Mas surto não se compra. E todos os surtados de rostos, de propaganda, de pícaras máscaras de surto estão enclausurados numa redoma longínqua de conceitos invisíveis, a salvo da sociedade insegura.
            Temos que surtar. Não compramos o surto e não podemos controlá-lo. Comercializamos um controle inexistente. Drogado, entorpecido. Como viver no/o/do surto? Perigo. Excesso. Morte. Vida. Não há fórmula exata, nem segura. Só certeza de que ele é necessário. De que ele é iminente. Sempre. Tentam vender- nos o controle, a cerveja, o cigarro, a casa, o peito perfeito; procuramos na internet, na rua, o amante ideal, o pinto, a neca, a vara, o caralho, a geba, a pica delícia; o corpo tanquinho para lavar a alma, sem estria, sem celulite, cem, não um. Muito, queremos mais, sempre mais, porque sempre falta ou pode vir a faltar. Será?
            Surtado. Solto. Suado. Tarado pela vida. O que não contam, o que o consciente super acredita não dizer é que se há falta tudo falta, nada satisfaz. Tudo é nada. O surto é pleno, pavor, pupila dilatada, atenção. É desejo sem falta, desejo no nada: nada sou, nada tenho, nadar sem água. Então tudo pode, criação, invenção de outro que não se assemelha a nada, inédito, mas feito das mesmas coisas. Nada é tudo, tudo que se tem. Não há o que se temer, há que se ter coragem. Coragem! Para deixar se acontecer. Para não controlar, para acontecer. É risco sempre. Risco inevitável. Fuga incessante do analista e seu divã. Arriscar-se. Riscar-se. Dilacerar-se. Deixar-se. Pulsão de vida na morte. Morte do EU, vida em mim. Surto é pulsão de vida-morte. No qual morte não é o fim, é o meio; apenas um processo de potência de vida, morte como desejo de vida. Surto. Há que eu morrer para que mim viva. Isso não se compra, não se vende. O mesmo desejo vendido na propaganda acompanha consulta marcada no analista. Falta para eles é processo interminável, para mim, é apenas a falta de um eu que não existe. Fuga na/da falta, no/do controle, falta de fuga, falta fuga. Fuja.
            Nunca se foge do superconsciente. Surto.

Ah! Se sempre pudéssemos viver antes do cara que passa



 Atriz Grasiele Gontijo em cena do filme. foto retirada do blog oficial. http://www.ocarapassa.blogspot.com/2010_07_01_archive.html

Você já deve ter tido, tem ou terá um vizinho digno de ser observado no seu cotidiano. Quando se levanta pela manhã; naquela soneca da tarde, largado no sofá com roupas bem à vontade, sem camisa. Ou quando está com outra pessoa em momentos de muita intimidade. Ou quem sabe, se der muita sorte, protagonizar saídas do banho com trocas de roupa. Tudo isso com aquela dúvida entesada[1] se a outra pessoa sabe que está sendo observada. Ah! E tudo isso termina às vezes com um momento solitário, de muito tesão e masturbação. Eis a descrição de um voyeur, palavra de origem francesa usada para designar pessoas que se excitam apenas observando outra(s).
            Excedem à grande rede de computadores vídeos ou sites com esta temática, que é crime, se considerada invasão de privacidade. Existe uma atmosfera de desejo e uma excitação na observação do outro, sempre potencializada pelo que o outro representa a nós, pela fama, e a internet potencializa isso. Exemplo mais ressente são de vídeos envolvendo pessoas conhecidas, apresentadoras de programa de tv, atores e muitos aspirantes a BBB[2], flagrados por webcams em situações de bastante intimidade e tesão. Há ainda muitos endereços especializados em disponibilizar imagens de câmeras escondidas ou de vigilância, voyeurs “profissionais” que estão o tempo todo prontos para registrar momentos cotidianos e excitantes – quanto mais casuais, melhor: elevadores, ônibus, trens, banheiros, revistas policiais, resgates, entregas, táxis, consultórios, escritórios, situações do dia a dia socialmente sexualizadas e ao mesmo tempo, proibidas e por isso, ainda mais excitantes. Neste momento abro espaço para uma citação de Osho, para violentar o pensamento, leiam Vaticano como qualquer instituição que pregue o sexo como algo moralmente prejudicial:

Pergunta a Osho: Por que estou tão fascinado pela pornografia?

Deve ser sua educação religiosa, sua escola dominical; caso contrário, não há necessidade de estar interessado em pornografia.

Quando você é contra o real, você começa a imaginar. O dia que a educação religiosa desaparecer da Terra, a pornografia morrerá. Ela não pode morrer antes.

Isto parece muito paradoxal. As revistas como Playboy existem só com o apoio do Vaticano. Sem o Papa não existirá nenhuma revista Playboy; não pode existir. Não terá nenhuma razão para existir. O sacerdote está por trás disso.

Por que você deveria estar interessado em pornografia quando pessoas estão aqui ao vivo? E é tão belo olhar para pessoas vivas. Você não se interessa pela fotografia de uma árvore nua, interessa? Porque todas aquelas árvores estão nuas!

Faça só uma coisa: cubra todas as árvores, e mais cedo ou mais tarde você achará revistas circulando às escondidas - árvores peladas! E as pessoas estarão lendo, colocarão dentro de suas Bíblias e olharão para elas e desfrutarão. Tente e você verá![3]
           
            O curtametragem “O Cara passa” (2010), com Direção de Maria Clara Teixeira / Necésio Pereira se posiciona neste lugar. Uma criação potencializada por recursos e técnicas que misturam flagras ficcionais e reais. Não faltam à produção artística dita clássica obras que abordem a temática da observação e o perigo que, em tempos cada vez mais informatizados e conectados, isto representa ao indivíduo: livros como “A sociedade do Espetáculo”(1967) de Guy Debord, “1986” (1949) de George Owell; filmes como “V de Vingança” (2006) de James McTeigue (que fora adaptado dos quarinhos), “A vida dos outros” (2006) de Florian Henckel von Donnersmarck, ou ainda, músicas como “Quatro vezes você” (2008) do grupo poprock brasileiro Capital Inicial. O fato é: hoje não é somente o Estado que possui aparatos técnicos para vigiar,  a ocupação do vizinho voyeur da luneta e do binóculo toma proporções inimagináveis na internet.
Antes as produções desejavam reproduzir situações cotidianas, e com o passar do tempo, foi-se criando um apelo muito maior em produzir momentos mais “reais”, tanto no ambiente do entretenimento como na arte de vanguarda. Neste, fez surgir entre outros tantos movimentos, a Arte da Performance; naquele, fez nascer os chamados realities shows, que tem como maior representante brasileiro o Big Brother Brasil, da Rede Globo de Televisão.
O Cara passa transita entre o ficcional e o real; entre o entretenimento e a arte. Rompe. Com técnica de posicionamento de câmera e/ou pela apropriação de imagens de câmeras de vigilância e/ou pela montagem acertada dos takes, consegue inventar a sensação de que estamos assistindo às imagens de câmeras ligadas há horas, à espera de um acontecimento. Não sei. Por isso é bom. Os atores, bem resolvidos em suas atuações, conseguem convencer os transeuntes flagrados que realmente são bêbado, pedinte e moça no ponto de ônibus. É excitante ver a reação das pessoas àquele casal improvável que se seduz numa dança sensual naturalmente coreografada. Uns parecem se perguntar: ele está bêbado? Ela é louca? Um passante parece reconhecer o ator, que é natural de Ouro Preto, cidade onde foi filmado o curta. O casal que vende animais na feira propõe o momento de maior interação entre “atores” e “público”, ponho entre aspas porque não podemos diferenciar no decorrer da ação atores de público. Poderia chamá-los performers e ser melhor entendido, mas o termo é usado por demais, está banalizado, desgastado, limitado. Poderia chamar de “aqueles que acham que sabem o que vão fazer” e “aqueles que, sem saber, têm o maior poder de mudar as coisas”. Mas isso são apenas termos que não devem usurpar o potencial da experiência, que também se assemelha ao teatro invisível de Augusto Boal. Mas como a mim o mais interessante é a diferença e não as semelhanças, as vejo no pretexto do cara que passa a pedir dinheiro, R$ 10, e que resolve a falta de conexão, a priori, das cenas.
Tudo me agrada, até mesmo os momentos em que não consigo entender o que se diz em cena, ou o que tem a ver aquela menina no ponto de ônibus, brigando com aquela mulher que não parece ser sua mãe; ou a caracterização destoante; ou a diferença das atuações, que beira aos excessos do canastrão à naturalidade: convence a todos. E a vida não é assim? Tudo aguça mais minha curiosidade, minha imaginação, minha capacidade de escrita. Excita-me muito.
Há muitas coisas que acontecem que foram captadas pelas câmeras ou pensamentos de efeitos que aqui não serei capaz de observar. Que não vi. Está lá. Vá ver. Apenas vendo mais uma vez, e mais outra. E outra. Escolhi não ver novamente, pois o texto é atrasado. Antes de escrever este texto, decidi seguir meu desejo de escrita, por isso há risco que esteja fantasiando coisas que não estão lá, que nem todos irão enxergar, mas que, sem dúvidas, só existem porque vi o filme. Veja também.
Este filme fala do excesso, por isso digo muitos “mais e mas”. É filme de excesso de exposição. É filme de excesso de relações, de fragmentos mais fragmentados e potentes quando visto no todo. Não existe melhor cena ou ator, a cena só é em relação. E agora quero salientar algo que mais me encantou, que mais me seduziu, que mais me excitou a ponto de querer mais e mais. Uma que vi antes do filme ser lançado. Será por isso??? A atuação de Grasiele Gontijo é surpreendente. Tamanha sensualidade midiática, de movimento capilar, de jogada de perna, de quatro, de escolha da langerie: uma striper nata! De fazer qualquer fissurado em enfermeiras gozar sem pôr as mãos. O que deixa mais incrível ou crível na arte, porque está lá, bem registrado, é a capacidade de metamorfosear um corredor qualquer em UM corredor de hospital high tech, capaz de convencer uma atriz riponga de que ela é a mulher mais sexy do mundo. Não que um seja referente ao outro, mas um determina, potencializa a existência da outra e vice-versa. Queria ser, naquele momento, aquele chão, naquela língua. Vemos pouco o cara passar e isso pouco importa. O que interessa é o que acontece entre, enquanto o cara está para passar. Quando vai passar? Vejam, afinal todos nós temos um pouco de voyeur e se tudo terminar num gozo inesquecível, melhor ainda.


[1] Tornar teso, rígido, firme. Variante popular que se refere ao estado de excitação, popularmente conhecido como tesão.
[2] Sigla para o nome em inglês Big Brother Brasil, programa exibido há 11 anos pela Rede Globo.
[3] Mais em http://www.palavrasdeosho.com/2009/07/deixe-o-homem-ser-natural-e-pornografia.htm

Para quem ficou com tesão para ver o filme clique aí e relaxe, se puder! 
http://vimeo.com/19441795

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Eu tenho amigos Cult


Eu tenho amigos Cult
Don’t cut your hair!
Gostam de fumar machona
Beber e declamar Baudelaire.

Eu tenho amigos Cult
Que clamam, reclamam, em chama!


Também escuta o que num qué
Mané, escreve.
Come pouca muié
(hum, são feios, isso é!)
Falam mal da mídia
imagem retirada da net.
Mas no facebook não comentam outra coisa, né!?


Eu tenho amigos Cult
Que não gostam da Academia,
Mas estão lá, ué!?
Sofrido é!
Sofrido, é!
Eu tenho amigos Cult
Que não veem Globo, SBT
Mas recitam daqui, um Piauí;
Não gostam de fama
Mas só tem Caros Amigos;
Não querem dinheiro
Mas só escrevem à Capital.


Eu tenho amigos Cult
Que não queriam ser Cult (acho eu.)
Queriam ser cultuados
Embalados pelo Chico.

Eu tenho amigos Cult
Que não queriam ser Cult
Queriam ser, apenas.
Mas porque não são o que querem
São o que são: amigos Cult!
cute cute!
Cult, né!?


segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

“A relação é prévia ao sujeito”


Para haver vida na Terra são necessários, “De fato, o carbono, o hidrogênio, o oxigênio, o nitrogênio, o fósforo e o enxofre, denominados coletivamente ‘elementos biogênicos’ (geradores de vida)”[1]. Porém, em dezembro de 2010, foi divulgada a descoberta de uma “nova” bactéria, que substituiu em seu DNA, o fósforo pelo arsênio, elemento que é considerado tóxico aos seres vivos[2]. Isto lançou um novo e instigante desafio ao cientista: como pode ser possível a vida mudar de forma? Ou melhor, qual será (será que existe?) a forma determinante de vida?

            Somos filhos daquilo que nos criou. Sem eles não somos. No entanto, não somos aquilo ou aquele que nos criou. Somos aqueles e aquilo que nem eles sabem quem são. Somos o reorganizado daquilo que nos criou. Somos o novo.
O Lago Mono fica no leste da Califórnia, limitado a oeste pelas montanhas da Sierra Nevada. O lago alcalino é conhecido por formações incomuns de tufo, um tipo de rocha calcária, assim como por sua hipersalinidade e altas concentrações de arsênio. (Foto: Henry Bortman / Science - setembro de 2010)


[1]Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Origem_da_vida. Acessado em 18/05/2011.
[2] Disponível em http://www.montecastelo.sc.gov.br/gerais/659/cientistas-descobrem-bacteria-que-se-alimenta-de-substancia-toxica..php. Acessado em 18/05/2011.
  
Produzido a partir das provocações da disciplina Filosofias da Diferença na Educação, ministradas pela professora Sônia Maria Clareto, PPGE - UFJF. Juiz de Fora, maio de 2011.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Consumo

Como aliar o espírito radical
ao radical do comércio?
De consumo como tudo.
Te consome todo.
Consumo me consome,
me some.
Com sumo.
Consumo.
Sumo.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

"Somos todos conceitos" escritos na pele

Performance coletiva realizada na Sala 35, da Escola de Minas, UFOP.
03 de Julho de 2008.

Experiência com provocação primeira de Clarissa Alcântara.

Acontecimento extemporâneo.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Olá, como vai?

foto: Kherian Gracher
a carta começa com um propósito não muito produtivo ao meu, a você. Lembro de como brincava, como se entretia com tão pouco, misturando detergente à água, perfume a pó de café... acreditando que, de uma hora para outra, poderia descobrir alguma fómula importante.

Pode acreditar, mas aquelas músicas que você ouve nos desenhos e parecem ser criadas "na hora", por criatividade espontânea da personagem, foi pensada muito antes do desenho ser criado... mas isso não imposrta, pois eles continuam sendo muito divertidos.

Ah, é isso... continue se divertindo muito, não pare, não fique se preocupando muito com os outros, com o amanhã. Viva o hoje, mas também faça planos e, principalmente, acredite que irão dar certo. Não lhe direi o que me tornei agora porque, assim como você, gosto muito de ser surpreendido, mas posso lhe garantir que você não se tornará um veterinário... mas mesmo assim, se quiser mesmo não desista. Você pode descobrir que pode ajudar os outros de outra forma; nunca duvide que você pode mudar o mundo, continue a limpar o córrego dos fundos da casa de sua avó, continue reclamando e sonhando com um mundo melhor, acredite sempre... Porque ainda pode descobri em que lugar me perdi de você.

Abraço e se cuide!

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Olá meu querido adulto.

Como suspeitava, os anos me trouxeram muitas coisas novas, mas me surpreendo com tamanho pessimismo. Engraçado, sempre achei que quando ficasse mais velho as coisas seriam bem mais difíceis, mas nunca que eu deixaria de ser criança.

Bom, tenho certeza que não fui a lugar nenhum. Continuo aí dentro, escondido em algum lugar.

Ah, não se preocupe muito senão for veterinário, afinal de contas já quis ser padre e não quero mais. Posso ser ainda muitas coisas: astronauta, cantor, super-heroi, professor, pintor, escritor, mágico, apresentador, ator, dançarino... Ih, tanta coisa. É so eu querer e posso ser. Mas vou contar um segredo: adulto não sabe ser o que quer, às vezes quer alguma coisa e faz outra. É bicho estranho de mais.

Pode deixar que vou seguir o seu conselho, vai ser moleza continuar a brincar e defender tudo que acredito. Se tenho alguma coisa a lhe dizer é: Acredite que você pode! Se precisar é só dar uma olhada naqueles programas daquela época, de minha época... "tá assim" de lições de como fazer a diferença, viu!?
E não se preocupe muito, não. Tenho certeza que, por tudo que vivo aqui na infância, você se tornará um grande homem!

Abração!

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Estes textos foram produzidos durante o processo de criação da peça "O Menino Maluquinho... mais um!", em Ouro Preto, Minas Gerais. Em Jan-Mai de 2009.