Repetição. Não há regime outro que gere tanta diferença quanto o do capital. Dizer ‘seja diferente’ é redundância. Diferença é a única certeza, assim como a morte, ah! sim, como respirar. Todos na diferença somos. Fantástico, não? Mas aí vem tal identificação. Ser aceito como diferente na igualdade, eis o risco já riscado. Só existe diferente quando existe semelhante. Não existe semelhante. Rio do impossível, da impossibilidade da igualdade. Consumo a calça boca de sino, santropê, saruel, capri, corsário, legging, pantalona; cabelos longos, repicados naturais, mas como naturais? Imposição do natural à natureza do cabelo enrolado, liso, anelado, alvoroçado. E vemos um desfile da diferença. Todos vestidos iguais, ouvindo igual, dançando igual, assistindo igual, discutindo igual, bebendo igual, amando igual. Tolice. É pé mancando no salto infame, é música chiclete que gruda na irritabilidade; é cerveja nem tão gelada, nem tão redonda, nem tão a número um, nem tão alcoólica, nem tão feliz. É corpo com celulite, banha que salta ao decote, colote imperdível na academia; é pau pequeno, gozo precoce, depilação atrasada. É diferença na repetição. Ual! É vida surgindo do falso controle da dita moda muda. É excesso. Color block. Muita cor, muita cor, mesmo. Paleta interminável do verde cintilante na pele negra dos olhos azuis de lente. E short curto, apertado, arrochado que cutuca na bunda mais que saliente do ‘cuduro’ brasileiro, não mais africano, menos ainda índio, jamais português. Nem europeu, nem japonês, nem Portugal, nem mãe áfrica. Filhos bastardos abandonados no parto nipo-afro-indo-sei-lá-o-quê: diferença, não igualdade. A saída, há saída, sempre. Onde houver repetição haverá então diferença. Alegria. Sociedade socialista stalinazovenezuelana do contra-norte é igualdade patética. Impotência que não resolveu o complexo inferior de Édipo pós-cegueira de Rei. República tem tudo: muito do que não me agrada, repúdio público ao reinado republicano. Mas quero falar aqui, na diferença, na relação, no entre, nem lá nem cá, lá e cá. Aqui. Agora. Presente. Olhos atentos. Corpo aberto. Atenção. Há diferença sempre. Não é querer, não é poder, não é vontade. É desejo de sei lá o quê. É. É. É. Potência. Vida que se faz na vida. Incerteza certeira, já disse isso em algum lugar. Já disseram isso em outros lugares. Aqui, repetição que gera diferença. Isso! Mas como? Comendo, vivendo, amando, criando. Controlar até que venha o descontrole. Não temer o caos. É ordenação na desorganização. Ordem outra. Veja. Está sempre aí, sempre aqui, não precisa procurar, precisa sentir, sensibilizar, dar-se conta. Doar. Não comprar. Dar-se. Doar-se. Não ao outro. Mas a si. Para si. E aí, já é outro não mais Eu. Prêmios? Não há. Já é premiação deixar-se ser. Tornar-se quem se é. Quem é? Que é? Aquilo que não é semelhança e igualdade. Repetição, repetição, repetição. Diferença, sempre há diferença. Capitalismo. Socialismo. Darwinismo. Iluminismo. Modernismo. Bruxismo. Contemporaneidade. Não tem nome. Não tem rosto. Corpo sem rosto, rosto provisório. Mas, sobretudo corpo. Corpo. Isso. Corpo pronto para torna-se sempre outro. Outro. Sem definição definitiva. Provisório. Sempre em relação a. Corpo como capital de investimento de desvaloração. Sem valor. Chulo, brega, ralé, popular sem ser pop of the top. Apenas corpo com valor de troca, permuta; troca-troca corporal. Faz vida. Perfuração do capital: repetição, repetição, repetição do capital até a total transvaloração, excesso de produção. Lei da oferta e da procura radical. Doar. Dar. Disponibilizar. Entregar. Tudo ao si. Dá?
********************************************************
]julho ou setembro de 2011[
********************************************************
Hoje encerro a era do obsoleto.
Do óbvio.
Do fixo. Seguro. Da anestesia.
Na chuva, sinto as gotas tocarem os pelos, escorregarem pela boca; absorvidas pelo tecido.
Roupa.
Caminho normalmente. Sem pressa.
Inauguro os sentidos.
A Era da dor.
imagem retirada da net. |
Do mutável. Redescoberto.
Aberto. Passageiro. Vivo. Fugaz.
Incerto. Perigoso. Instigante.
Basta de poesia para almas analfabetas.
]julho ou setembro de 2011[