"Quando
saímos, se está a nevar e tudo se pôs branco, ficamos sós, sentimo-nos sós. Se
o sol estiver a brilhar, talvez não. Mas nada garante que aquilo que o outro
sente seja equivalente ao que nós próprios sentimos. Quanto à mensagem, não...
sei... Não há mensagem. A melhor coisa é deixar a intuição e a imaginação
agirem. É verdade que eu quero dizer com força qualquer coisa difícil de
formular, qualquer coisa de escondido; mas são os espectadores que têm de o
descobrir, senão tudo seria tosco e grosseiro; são vocês que têm de o
descobrir, eu não posso proceder demasiado diretamente. Frente a certos
valores, é preciso, acima de tudo, sensibilidade.”[1]“Nós
desejamos fervorosamente uma unidade com a qual nos identificar, uma harmonia,
uma estabilidade. Quando as peças se embaralham muito nos sentimos sem chão, é
como se alguém nos tivesse tirado o tapete. A questão é que ansiamos pela ordem
e repudiarmos o caos, a desestabilização de nossas certezas, de nossas
verdades. Queremos um escudo protetor que nos afaste do desconhecido e, assim,
nos faça manter uma mesma personalidade para o resto da vida. Parece que
precisamos de unidades que nos tranqüilizem. Mas o problema é que não as
pensamos como provisórias.”[2]
"A professora e a aluna estão na porta da sala de aula. A aluna com um
livro na mão e a professora à procura de algo. A menina, onze anos
aproximadamente, quarta série do Ensino Fundamental. A professora, a mulher,
tendo na Educação Física sua área de atuação. A menina, com o livro na mão,
mostra: “Tia, olha aqui”, e aponta o livro. Os olhos da professora procuram
algo, mas ela não olha o livro da aluna e afasta-se. Antes que a distância
fosse maior, a aluna ainda diz: “Tia, aqui...”. E a professora não olha e
continua sua caminhada para a secretaria. E então, a aluna murmura:
“Desgraçada!”.[3] “Não
é bastante ter ouvidos para se ouvir o que é dito. É preciso também que haja
silêncio dentro da alma. Daí a dificuldade: a gente não aguenta ouvir o que o
outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo
que a gente tem a dizer. Como se aquilo que ele diz não fosse digno de
descansada consideração e precisasse ser complementado por aquilo que a gente
tem a dizer, que é muito melhor. [...] Nossa incapacidade de ouvir é a
manifestação mais constante e sutil da nossa arrogância e vaidade: no fundo,
somos os mais bonitos...”[4]
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