Depois
de algumas coisas que vêm acontecendo fui forçado a pensar após ler esta frase
em apoio ao Deputado Marco Feliciano: “E se Jesus renunciasse? O que seria do
mundo?"
Foi
irresistível, incontrolável, e fui pensando: Se Jesus renunciasse, talvez nem saberíamos que
existiu um homem chamado Jesus. Paulo e outros discípulos não seriam perseguidos,
torturados e mortos. A Igreja Católica não teria sido criada e com ela, os
territórios conquistados em nome de Deus, encarnado em Homem, não seriam conquistados.
Famílias não teriam que oferecer à Igreja, mesmo à contra gosto, o seu
primogênito em sacrifício ao Papado. Não teríamos Papas. E todas as suspeitas
de relações tenebrosas entre Estado e Igreja não teriam acontecido. Milhares de
mulheres não teriam sido queimadas, acusadas de bruxaria. O que se entedia como
Conhecimento não seria encarcerado em monastérios e seminários. Não haveria
Index. A Igreja não controlaria durante muito tempo e definiria quem pode ou
não ter acesso ao Conhecimento. O riso não teria sido proibido durante séculos.
Homens e mulheres não teriam que negar seu sexo entregue ao Deus que condena ao
pecado os prazeres da carne que Ele criou. Não haveria o Segundo Testamento, e
as atrocidades de Reis continuariam a dominar e a decidir o destino de seus
súditos, representando a divindade terrestre. O povo continuaria como povo de
Abraão em busca da Terra Prometida. Continuariam em busca de Canaã. E
continuam. A Reforma não teria acontecido, e não haveria Lutero, e não haveria
Anglicanismo. E não haveria Contra-Reforma, e Cruzadas que dizimaram povos e
culturas em nome da fé. E não haveria mais uma vez a aliança escabrosa entre
Estado e Religião. E não haveria Jesuítas, e não haveria povos nativos da terra
brasilis sendo obrigados a negar suas
crenças e hábitos. E não haveria aquela passagem bíblica em que Jesus se irrita
no Templo de Seu Pai transformado em salão de comércio, quando é impelido pelo
soldado romano e responde: “Dai a Cesar o que é de Cesar, e a Deus o que é de
Deus.”(Mt 22, 21) Não
haveria Igreja Evangélica, Universal, Batista, Presbiteriana... Haveria um
monte de deuses greco-romanos, afros, nipônicos, hindus, chineses,
escandinavos, deuses nativos de cantos diferentes da terra duelando entre si. Não
haveria o Círio de Nazaré, nem o sincretismo bahiano. Nem a polêmica em torno
da novela “Salve Jorge” e relação com o Candomblé. Ainda haveria judeus e muçulmanos.
Não teria havido Nazismo. Não haveria Auschwitz e todas as mortes nas câmaras de gás. Não
haveria mitos dos Templários e do Santo Grau. Não haveria o 11 de setembro de
2011. Não haveria a célebre tela da última ceia de Leonardo da Vince. Não
haveria Páscoa. Não haveria chocolate na Páscoa. Não haveria uma imensidão de
Santos que merecem ser rezados e admirados, dignos de serem transformados em
estátuas. Não haveria Igrejas Cristãs Iconoclastas. Não haveria Igrejas
Cristãs. Não haveria o “Anti-Cristo” de Nietzsche. Não haveria pastores
cristãos. Não haveria Padres, Papas, Madres. Não haveria virgens sagradas, mas
sangradas. Pois ainda haveria sacrifícios de virgens. Não haveria cobrança de
dízimo em nome de Jesus. Esta talvez fosse a ação mais coerente com [in]existência
de Jesus. Só é possível não pedir dízimo em nome de Jesus (o que talvez, fosse
mais cristão) apenas se Jesus não existisse. Paradoxal, né!? Não haveria
sessões de descarrego, de exorcismo em nome de Jesus. Não haveria um vídeo de
um pastor cristão pedindo a senha do cartão do banco de um fiel de Jesus, em
troca da entrada do céu. Não haveria a imagem de Jesus de olhos azuis, barba
ruiva e pele branca, apesar de ter nascido longe do Cáucaso. Não haveria todos
os partidos políticos cristãos brasileiros. Não haveria um monte de gente que
prega a humildade, a pobreza, o respeito agindo contrariamente, durante muito
tempo. Não haveria o voto dos cristãos. Não haveria um crucifixo em cada
repartição pública, nem a oração do pai-nosso antes de entrar para sala de
aula. Não haveria o Pastor Marco Feliciano. Não haveria esta postagem. E todos
os protestos que se seguiram após a eleição da Comissão de Direitos Humanos da
Câmara Federal.
É! Talvez não houvesse muita coisa boa
produzida pelo amor de Jesus. Mas também não haveria uma infinidade de
atrocidades cometidas contra seres em nome de Jesus. Assusta-me um discurso
religioso carnado na máquina do Estado (a História só mostra estragos). Que
todo mundo tenha sua fé, que possam exercer sua prática e que o Estado assegure
os direitos de cada um, assim espero. Por hora,
acho possível haver outra pessoa,
inclusive cristã, mais competente para ocupar a Presidência da CDH. Não me importa a dúvida a existência de Cristo e Marco Feliciano não me representa e
não tem representado (nem os seus seguidores representam) os Direitos Humanos e sua
multiplicidade.
[1] Assim
chama a reportagem do jornal “O Tempo” aqueles que seguram a faixa em apoio ao
Deputado Marco Feliciano. Disponível em http://www.otempo.com.br/noticias/ultimas/?IdNoticia=379332
. Acesso em 26/03/2013.
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