O maior desafio da escola não é captar os desarranjos que não são meras subversões ou vontade de transgredir. Toda regra terá sua exceção, já diz o velho jargão. O maior desafio da escola é lidar com desejos, desejo de fazer outras coisas, desejo de fazer nada quando se está fazendo alguma coisa. E desejo não tem a ver com obrigações, inclusive, nem com aprender!
A obrigação é coisa que provoca mortes na escola, até mesmo o mais singelo e despretensioso desenho livre... Tem dias que se quer fazer outras coisas além de desenhar na aula de desenho. Ops!!! E isso seria possível?
Difícil a tarefa de lidar com a obrigação de aprender se nem sabemos como aprendemos e não temos nem a forma, nem a fôrma.
É difícil para todo professor aceitar que, sim, nem todos alunos vão achar as coisas que se diz interessante, mesmo sendo as mais coloridas, as mais diferentes, as mais alegres, as mais mais. Não adianta truques e malabares. O negócio não é entre sujeitos e objetos ou o problema não está entre o Professor e o Aluno, nem tampouco na Aula, mas na relação que não começa na escola nem termina nela, vaza e, dela, pouco se sabe, só se pode apostar, como num lance de dados.
Acho engraçado alguém se espantar com um aluno que não gosta das aulas de arte ou aceitar facilmente que outro não goste das aulas de matemática. A maior dificuldade que enfrenta um professor é a obrigação: de ensinar, de aprender e de saber tudo o que faz; de falar, de opinar, de reprovar ou aprovar. Quem disse que o professor é qualificado para aprovar ou desaprovar alguém? E se o aluno souber mais que o professor, com certeza se entediará e não fará nada ou o contrário, se o aluno não souber nada mesmo, e cansado do discurso que não se sabe nada, se entendiará de não saber nada e continuará sem saber nada. Por isso, não é uma questão simples de avaliação de causa e efeito, porque o efeito pode ter muitas causas ou ter causas sem efeito nenhum.
Nós, professores, por mais descolados que sejamos, nos sentimos obrigados a fazer alguma coisa, a dizer alguma coisa, quando também é importante não fazer alguma coisa, não dizer muitas coisas, mas ouvir e nada fazer.
E isso não quer dizer ouvir o aluno, porque o aluno também aprendeu a ficar calado. Daí, um dos maiores desafios que se tem em sala de aula é ouvir o silêncio que se produz nos entre's as falações, regras e convenções educacionais. E não fazer nada daquilo que se esperava pedagogicamente correto ou sistematizado pelo sistema de ensino que está mais preocupado em transferir informações para resolver problemas previamente estudados pelo mercado de trabalho é tarefa complicada.
Sigo apostando nesta difícil tarefa. Por hora, escrevendo um pouco.
Eu que sou aluna (ou ao menos era, até ontem) sei como é chato você querer fazer outra coisa e ter que ficar ouvindo professor falar de uma coisa que não é nem um pouco interessante pra você. Nunca gostei de aula de artes (olha só!) e nem das de história, nunca gostei de ouvir professor "falar" a matéria, gostava de copiar a matéria, nem que fosse umas cinquenta folhas. Para meu azar todos os professores de história falavam bastante. Deve ser mal da matéria, só pode. Eu gostava do meu professor de sociologia, que promovia debates e conversava com a gente, também mandava escrever redações e etc. com nossa opinião, para mim eram as melhores aulas. Mas reconheço que é dificil para um professor atrair a atenção do aluno para as aulas, na maioria das vezes ninguém quer saber de nada ^^
ResponderExcluirPrimeira vez que vejo um blog de SD ativo, vou passar mais vezes por aqui o/
Pelo que estou vendo, você conseguiu se virar bem, usando as práticas que lhe foram disponibilizadas dentro da escola, fazendo suas escolhas. E isso que acho potente.
ResponderExcluirVejo que é difícil lidar com os desejos dentro da escola e isto sendo professor ou aluno. Espero que continue a exercitar sua curiosidade e capacidade de produção, que aqui se mostrou através de seu texto.
Não tenho uma regularidade de publicação, publico de acordo com os desejos de produção. Mas fico muito honrado com o tempo dispensado a leitura e escritura de seu comentário, coisa rara por aqui.hehehe
Um forte abraçoe até breve, então.