Entre conversas e causos... Melanie
Klein, bem nasalizado. Entre a dificuldade de um de entender o que se passa
nessa conversinha do “atravessando o travessia”, digo: tenho uma história para
contar, era um homem que é de fevereiro, fevereteiro; de março, marcereteiro.
Claro, não? Entendeu? Alguns sim, alguns não, alguns...
Na madrugada, um humano demasiado
humano repete ‘a dor diz, passa momento, mas o prazer quer a eternidade’.
Eterniza aquele momento de dor, toalha molhada na cabeça, ronco, fungados e muitas
flatulências. Pergunta com voz cavernal de algum intelectual com crise de
sinusite.
- Você tem medo de quê?
- hum... (querendo fingir dormir)
- Você tem medo de quê?
(Insistente)
A pergunta acorda uma inquietação
há muito presente. O desejo de produzir resposta ainda mais inconclusa toma
corpo e um possível diálogo se inventa.
- Tenho medo de desaparecer.
- Tenho medo de ficar só.
- Tenho medo de perder o controle
a qualquer momento.
E a voz sinusitante cria
entendimento:
- Eu também. Temos os mesmos medos:
da morte, de ficar sozinho e de enlouquecer.
Você já se sentiu próximo a isso? Perder o controle?
- Sim. Sempre.
A loucura é de uma lógica da comunicação velada, muda, todos falam com todos, mas é como se eles falassem só com o imaginário deles-outros.
foto: Marina |
foto:Marina |
E o
show da loucura atravessa a sua sexta edição, na madrugada de uma quarta, num
quarto universitário. Na quinta edição, posterior à sexta, na manhã da
quarta-feira, falas concisas, desejo de texto claro, tão claro que é capaz ser
projetado para fora da conversa, num futuro dialético impossível e adoecido.
Enquanto isso, o nome que não saiu na programação, o refletor que não acende, o
data show que precisa ser desligado, as luzes que precisam ser apagadas.
Preciso de amigos, muitos! Uns cantando junto, outros apagando as luzes, outros
acendendo luzes, um para operar o data-show. Acontecimentos da memória.
A memória dos dias se constrói entre o que se retém e o que se esquece (de novo, de novo, até ficar inaudível).
A ação começa. Na entrada, a
saída da mesa com a viagem da música: “eu vim de longe para encontrar o meu
caminho”, cheguei à UNICAMP.
PERSONAGEM (Folheia o caderno e lê). No pano branco são projetadas imagens de fachadas de Hospitais psiquiátricos. E imagens internas também, se forem conseguidas com autorização das entidades. P.S.: O Hospital Psiquiátrico Cândido Ferreira, em Campinas – SP, talvez autorize imagens.
Ao fundo da cena, por acaso, na síntese
disjuntiva de criação, na falta das imagens artificializadas de hospitais,
resta a imagem da UNICAMP.
Logo um corpo nu, é performance,
sempre um corpo nu. Diferença entre teatro e performance, pois o figurino
essencial em performance é o nu, em suas múltiplas formas em devir.
Uma plateia atenta. Mas as luzes
ainda acessas. Quanta clareza!
- Alguém poderia apagar a luz,
por favor?
Um corpo apressado vai e volta,
volta e vai, para certificar-se de que estão todas apagadas. Surpresa! Uma
ainda acesa.
**No pé de um amigo uma frieira.
Doença. Um corpo que resiste a produção do fungo. Saúde. Desdobra e dobra de
doença-saúde na criação de vida.
Mas ainda havia luz lá fora.
- Por favor, alguém poderia
fechar as portas?
O corpo amigo atento, volta e
vai, prontifica-se. “Clack.”
- Será que a porta só abre pelo
lado de fora? Aguardemos.
Desconforto na disritmia do
coração. Na projeção, corpos e grades e locais para clausura na diferença,
loucura. Loucura da clausura. Forma acadêmica, sintoma endêmico da citação
descartável, clausura bibliográfica. Mas agora, criação na clausura, fuga à
clausura, louCURA. Sem separação entre o NAC1 e o NAC2.
foto: Marina |
Discussão sobre sexualidade, homossexualidade. Filosofando, um amigo proxeneta expõe suas conclusões de pesquisa empírica: cavanhaque e ou moto com compartimento traseiro é indício de práticas homossexuais. Comprovação analisável in loco no Parque Taquaral, em Campinas, no qual práticas homossexuais masculinas acontecem, assim, tranquilo, à luz do dia. Naturalidade cotidiana como o quiosque, a árvore, o vento, as árvores, os gatos, os trilhos do bonde, o lago, os patos. Uma fuga da clausura social de padrões doentios. Loucura? Criação! Uma possível linha que perfura o cotidiano burlesco de um parque ao redor de mansões familiares de classe média. Corpos masculinos, tesos e criativos, resistentes. Uma fuga dentro da clausura. Um possível na criação de novas relações sociais. LouCURA.
Voltando ao causo dos cavanhaques
e compartimentos traseiros para motos, seria isso o grande fetiche daqueles
grupos de motoqueiros, ali cavanhaque e compartimento traseiro para motos é
unanimidade. Por isso devem andar em grupo. Delícia. “Então era isso”. Será?
Desconfio.
No intervalo, meu amigo
especialista em cavanhaques e homossexualidades compartimentadas em motos,
preocupa-se:
- Não posso esquecer a cueca. Se
eu perco a cueca é sinônimo de problemas em casa. E imita, com tom de voz
agudíssimo sua mulher: “Cadê a cueca?”. A gente às vezes cria também nossas
clausuras para nos proteger da loucura em caos.
Em performance, a amizade foi
capaz de trazer uma possível cura. A loucura que é clausura cria doença, mas
também cria cura. Fuga possível na escrita, louCURA que é capaz de criar e
criar e criar e...
foto: Marina |
A performance não é o fim de uma
obra, mas inícios em obra. Linhas de cura que desformam a forma, na academia,
no manicômio, na Vida!
Este texto foi produzido graças a vivência durante a participação do evento V Seminário Conexões – Deleuze e Território e Fugas e...' e o 'XII Simpósio Internacional de Filosofia – Nietzsche/Deleuze', ocorrido entre os dia 20 e 23 de agosto de 2013, na UNICAMP, em Campinas - SP, no qual acontecera o Show da loCURA 5.
Trecho do texto “Solidão (o mundo é merda)”, Edson Costa Duarte [vivo]. Disponível em http://duarteazul.no.comunidades.net/index.php?pagina=1206516972 . Direitos gentilmente cedidos a mim.
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