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Parece que um dado das últimas pesquisas sobre trabalho e renda no Brasil foi pouco discutido à esquerda: a interseccionlidade ou a relação entre desigualdades socioeconômicas no país e diferenças entre raça, classe e gênero.
Além de reafirmar a já conhecida desigualdade entre trabalhadores negros e brancos, entre mulheres negras e homens brancos, o recorte educacional chama muito mais atenção.
Diferente do que se imagina (e principalmente, do que se acredita hegemonicamente!), a baixa escolaridade não produz maior diferença de renda entre negros e brancos. Enquanto negros com ensino fundamental completo e médio incompleto recebem o equivalente a 82% do que um trabalhador branco com mesma formação, um negro com ensino superior completo recebe apenas 69% do que um trabalhador branco, com mesma formação. Dito de outra forma, a formação profissional, no Brasil, não tem dado conta de combater o racismo e o machismo estrutural em nossa sociedade.
Porque esta disparidade de rendimento só não é pior que a diferença entre os rendimentos de uma trabalhadora negra em relação a um trabalhador branco. Neste recorte, as trabalhadoras negras recebem apenas o equivalente a 44% do rendimento de um trabalhador branco.
Os dados do IBGE mostram o que movimentos feministas negros, mulherismo africana, transfeminismo ou as pesquisas com metodologia interseccional denunciam há muito tempo: políticas de combate à desigualdade socioeconômica, no Brasil, não podem tratar de maneira isolada aspectos como raça, gênero e sexualidade e sua relação na produção de classe.
A guerra que está em curso no país não é meramente cultural, fundamentada em ações de líderes religiosos neopentecostais. Os dados do IBGE provam que a gerra em curso no país é um genocídio econômico, que vítima homens e mulheres negras, homens e mulheres indígenas, homens e mulheres LGBTQI+, pobres brancos e mulheres brancas, e claro, tudo em nome de um deus.
E se nos causa escândalo as citações literais fascistas em discursos de autoridades nacionais, que nos sirva de alerta para que tenhamos certeza de que QUALQUER POLÍTICA ECONÔMICA OU SOCIAL que venha desse governo será racista, machista, lgbtfóbica, capacitista...
O que parece que a esquerda branca hegemônica ainda não entendeu é que Racismo e Machismo, por exemplo, não são meras estruturas comportamentais ou culturais. Ou, se Racismo e Machismo são culturais é porque são cultivados como políticas que tem garantido o genocídio econômico estrutural no país.
Se a Esquerda Branca (que não se vê como identitária ou Cultural) quer debater economia e desigualdade social, e não perder tempo com pautas morais ou comportamentais ou ainda "identitárias", vamos aos dados ECONÔMICOS: negros ocupam apenas 29% de cargos de chefia, mulheres pretas são apenas 3% das professoras da pós-graduação, o desemprego tem taxa de 11,3%, enquanto entre pessoas negras chega a mais de 15%. E o pior de todos os dados: a diferença de rendimento entre negros e brancos aumenta, proporcionalmente, com aumento da formação profissional.
O que uma parte da esquerda economicista não entende (ou parece que não Deseja entender) é que, se neoliberalismo é fascista, ele sempre foi, a priori, racista e machista (e Isso, esse inconsciente, os líderes neopentecostais já descobriram). Desse modo, não há luta antineoliberalismo ou antifascista possível que não seja antirracista, antimachista ou antilgbtfóbica.
Concordo com a esquerda branca em certo aspecto, com uma condição. Se as declarações diárias racistas e machistas do presidente e de seus ministros e ministras são cortinas de fumaça, que não devem ser fomentadas e naturalizadas com memes e sátiras mal feitas na internet, a ÚNICA forma de serem combatidas é com POLÍTICAS ECONÔMICAS definitivamente ANTIRRACISTA e ANTIMACHISTA, abandonando esse eufemismo da branquitude "Guerra Cultural".