

Comecei então a pensar em outras
coisas: músicas, gostava de muitas músicas, algumas produzidas por uma
filosofia potente tal qual aquelas lidas nos livros filosóficos, com charme de pôr
o pensamento para cantar e dançar. Dia 27 de março, Dia internacional do
Teatro, me qualificava no dia 26. Lembrei-me da minha defesa de monografia pela Faculdade Angel Vianna - RJ, dia
27 de março de 2011, quando fora orientado pela primeira vez por Maria Helena
Falcão. Naquele dia, li a mensagem de Augusto Boal, escrita em 2009, na qual
ele destacava a relação composicional entre teatro e vida. Aguçando nosso olhar
para as relações teatralizadas que vivenciamos cotidianamente, como aquela que
agora protagonizava. Personagens, figurinos e espaços bem definidos, texto
dramático com rigor linguístico invejável pelo dicionário, palco e plateia,
conflito dramático, clímax e desfecho da trama.
Depois pensei que o silêncio após
tanta falação e escrita seria um bom exercício.

Um corpo forma texto cria. Um
corpo cria mais corpo na escrita. Corpo é escrita. Escrita é corpo. Corpoescritatecido lembrava também o trabalho com Nina, criador de tanto corpo. Agora, tanta coisa criava
aquele corpo submetido à qualificação, porém composto por tanta coisa que não apenas acontecia na qualificação. Tempo do mestrado implodido por acontecimentos
que arrombavam as paredes institucionais. Escrita da pele. Pensava: um vídeo
com imagens que tem produzido corpo junto à pesquisa do mestrado, apesar de não
fazer parte do cronos mestrado, por vir antes e por não está dito pela língua
régia da pesquisa acadêmica, mas por outra língua que produz corpo. Corpo em produção. Corpo
produzido. Corpo produzindo. Corpo que inventa corpo. O corpo assalta a cena.
O corpo texto encontra + corpo em
produção de mais corpo. Como corpoescritatecido, corpo cola no texto na
produção de corpo. Corpo + imagem + texto + música + cola + corpo + papel +
cola + corpo + música + texto + cola + cola + música + imagem + cola + texto +
corpo + imagem + cola + texto + cola + corpo +++++++++++++++++ = forma =
educação outra = corpo = nu.
Outro corpo. Outra produção.
Outro possível. Uma garota é impedida de ficar nua na escola ou é permitida
graças à um discurso adoecido: ela pode, coitada, é doidinha mesmo. Ela sempre
fica nua, ela sempre causa constrangimento. Aqui o sempre não naturaliza, pelo
contrário, constrange e desnaturaliza a atitude já esperada. A paciente professora e amiga Cláudia Meireles problematiza por lá: e se experimentássemos outra coisa, e se experimentássemos
o momento dela de experimentar o nu na sua nudez de possibilidade e não na
ansiedade do desejo da expectativa por cobrir o corpo. A diretora responde
cansada: já tentamos isso aí, outras coisas.
Clarissa Alcântara comendo algumas frutas
da banca provoca, experiência tem a ver com memória. Repetição com memória da o
Mesmo. Repetição com esquecimento é diferença. E Claudia continua a repetir e
repetir e repetir e repetir esquecendo os limites. Que diferença. Um corpo nu, mais uma vez. Quanto
nu suporta Educação? Quando é que o corpo está nu? Que roupas? Que nu?
Uma colagem que deveria proteger
o nu dos olhares, que deveria encerrar-se e dar palavras aos outros, no
encontro, rouba palavras. Encontra música, produz movimento que deixa o corpo
ainda mais nu. Risco. Não havia planejado nada daquilo. Nada consciente.
Deveria ter parado na primeira oportunidade, mas quando é que foi? O corpo nu
que se produz na academia e poderia ser atacado pela academia, se protege com
academia de muitos modos (devir animal, devir criança, resistência, blá, blá,
blá, blá...): dois livros na frente de n sexos. Pudor? Talvez. No entanto, mais
importante que forma nu é o movimento que a produz, movimento de invenção que
potencializa outras formas impensadas, movimento caro a este território de muitos
hábitos cristãos de escolares cátedras.

[1]
LARROSA, Jorge. Elogio do riso. IN: LARROSA, Jorge. Pedagogia profana. Danças, piruetas e mascaradas. Autêntica: Belo Horizonte,
2000.